João era um pseudo-intelectual. Metido a ter frases bonitas no orkut, frases de efeito no msn. Lía livros que ninguém lia. Conhecia autores que ninguém conhecia. Sabia um pouco de tudo, sobre tudo.

Não era que João fosse, em suma, um pseudo. Mas o julgavam como Intelectual.

João sabia de sua capacidade. E ignorava sua taxação. Sempre criado de uma forma diferente, fez coisas diferentes, e acabou sendo atraído por coisas diferentes. Diferentes, digo, fora do padrão da sociedade que convivia. Desde pequeno se desalienou. Muito cedo, aprendeu a diferir uma pessoa da outra pelas suas qualidades, e não pelos seus erros. Aprendeu que uma pessoa se faz, e não é feita; e que pessoas alienadas não se encaixam nessa teoria. Constatou que a maioria dos seus amigos são alienados. E deixou por isso mesmo. Afinal, quem era João para julgar alguém.

Mas João era livre. E gozava de toda sua liberdade, mesmo não sabendo bem o que era.

João saía, fazia coisas, comprava coisas. João era, realmente, livre. Tinha noção das reações provindas de suas ações, e pensava.

João não se escondia atrás de uma capa, não fogia dos reais sentimentos. A maioria dos seus amigos Pseudo-alguma-coisa ficavam longe, porque sabiam que só assim os outros podem admirá-los dentro de sua hipocrisia. João não. Sempre estava perto. Claro, ele era humano, e tinha sua hipocrisia também. Tinha sua hipocrisia, tinha seu egocentrismo, tinha suas vaidades. Tinhas suas mininovas, como todos.

E João viajava. João viajava porque todos precisamos viajar. Por sua conta, não por histórias. Viajava por sí. Com seus pés e olhos, para ver o que era dele. João sabia que um precisava viajar para lugares que não conhecia para quebrar essa arrogância que o consumia. Que o fez ver o mundo como o imaginara, e não simplesmente como é ou pode ser.

João, em sua última viajem, ficou na sacada de um prédio alto. Sem ninguém por perto, ficou sozinho. Ele, a altura, o vento. E uma sensação desconhecida. Olhou para os lados. Olhou para baixo, e no mesmo momento, tremeu.

O que sentira não era medo. O que sentira não era coragem, nem tampouco a ausência dela. O que sentira fora liberdade.

Ele sorriu um sorriso de tristesa, de melancolia.

Sabia que podia pular. Sabia que podia fazer o que quisesse. Ninguém iria falar nada.

E nenhuma ação. Ficou olhando, perplexo, para baixo.

E então constatou toda a força que a liberdade expressava. Sentiu todo o poder que a liberdade lhe dava.

Não mais contente de se rastejar, quis voar. E pulou.

E, enquanto caía, se sentiu completo. Naqueles segundos, viu que podia.

E fez.

Bernardo Mendes